sábado, 19 de abril de 2014

“Muitos ‘Justiceiros’ são policiais pagos”, afirma ex-militar

Ex-militar que escreveu livro para denunciar abuso de autoridade em quartel de Fortaleza confessa que já recebeu proposta para matar bandidos a pedido de comerciantes. Ele e um policial civil de São Paulo pedem a desmilitarização da PM

Repórter: Bruno Martins

Expulso da corporação por ter escrito e distribuído aos colegas o seu livro: “Militarismo um sistema arcaico de Segurança Pública”, Darlan Menezes Abrantes, 39, é hoje um pastor evangélico na Igreja Batista em São Cristovão, Fortaleza. Ele defende a desmilitarização da Polícia Militar e afirma: “Muitos ‘Justiceiros’ são policiais contratados por comerciantes dispostos a pagar no mínimo dez mil reais para você matar um bandido”, declarou.
Fonte: Arquivo Pessoal
O ex-militar da Cavalaria do Batalhão de Fortaleza – Ceará confessa que já recebeu propostas de comerciantes vitimas de assaltos para matar bandidos: “Eu nunca aceitei, mas sei que depende muito do tipo de bandido e o perigo que ele representa para a sociedade, quanto mais perigoso mais caro é”, explica.
Em relação aos casos de moradores que fazem justiça com as próprias mãos, como constantemente tem sido veiculado pela mídia, Darlan acredita que isso é resultado do descrédito que a segurança pública adquiriu da população: “Infelizmente a violência chegou a um nível terrível no Brasil e com isso a população tenta fazer justiça com as próprias mãos, ou questionam os policiais, por que eles não batem nos bandidos já fui questionado dessa forma por um cidadão quando eu prendi um indivíduo”, lembra.
Fonte: Arquivo Pessoal
Darlan foi expulso da corporação em janeiro deste ano. Em seu livro que já está na segunda edição ele denuncia o militarismo exercido por oficiais dentro dos quartéis: “Os oficiais (Coronéis, Capitão e Tenentes) não pensam na sociedade só pensam neles, eles morrem de medo da desmilitarização, pois temem perder o poder que o sistema (militarismo) lhes dá”, ressalta. Com esse pensamento Darlan defende que a PM ainda vive uma cultura herdada pela ditadura (período em que o Brasil foi governado por militares de 1964 a 1985).
“A PM perdeu o foco de ostensividade e está indo para as ruas disposta a matar, pois o militarismo é um sistema de guerra, que nos deixa a cada dia mais violento e essa repressão quando necessário é um papel a ser exercido pelo exercito, marinha e/ou aeronáutica”, defende. O ex-militar garante que em 13 anos dentro da corporação, não matou e sequer recebeu ordens para isso.
A defesa pela desmilitarização veio quando ele ainda estava na faculdade de teologia na Universidade Estadual do Ceará – UECE e no contato que fez com professores de outros países que já são desmilitarizados: “A partir disso comecei a abrir minha mente para este tema e resolvi escrever o meu livro com base no que eu vivia no quartel e que outros militares me confessavam”, revela. Ele cita uma das frases do livro que a considera mais importante: “A PM é uma polícia medieval, nela existem duas classes os senhores feudais (Oficiais) e os escravos (Praças)”.
Quando ainda no quartel Darlan confessa que questionou o seu superior a respeito dos seus direitos e o que recebeu foi uma folha branco: “Os seus direitos estão aqui, foi o que ele me disse”, recorda.
Para ele a PM de São Paulo como de qualquer outro Estado é uma polícia agressora: “Enquanto houver militarismo no sistema de segurança teremos uma polícia violenta, que olha a sociedade como um inimigo a ser combatido”, diz.
Policial Civil defende a criação de uma polícia que faça o ciclo completo
Um policial civil de São Paulo que prefere não se identificar diz ser a favor da polícia que faz o ciclo completo, ele explica que nos Estados Unidos não existe distinção entre os civis e militares sendo eles uma única corporação: “O que faríamos é deixar de ter duas polícias para ter uma ‘Policia do Estado’. O policial vai para a rua fardado prende o indivíduo e leva para a delegacia lá o outro policial registra o caso e encaminha o meliante para a prisão se necessário”, explica.

Fonte: Parana-online
Para ele o problema maior não é na militar versus civil e sim na legislação brasileira: “As pessoas defendem muito a desmilitarização eu também sou a favor, no entanto o que devemos discutir mais é a legislação do nosso país que é falha, hoje um indivíduo comete um crime, pois sabe que por mais que o militar vai lá e o prenda ele não ficará preso por muito tempo, isso desmotiva o profissional e dá brecha para a criação de novas milícias e a regra do olho por olho (Justiceiros) se torna fator importante nas tomadas de decisão da sociedade e da própria polícia”, disse. De acordo com ele, a criação do ciclo completo representa pouco custo para o Estado.
Tanto para o policial civil, quanto para o ex-militar Darlan a desmilitarização tem que começar dentro dos quartéis para que assim a PM olhe o cidadão como amigo e não como inimigo: “Os oficiais precisam ser mais compreensivos com seus soldados, para que eles possam ir para as ruas sem se preocupar com possíveis penalidades que receberão porque a bota esta suja ou a barba está por fazer”, ressalta o civil.  
Fonte: Coluna do Leitor
Segundo Darlan, não adianta o policial receber uma formação mais humana na academia se o sistema continua o mesmo nos quartéis: “E foi por esse sistema arcaico que não respeita liberdade de expressão que fui expulso”, disse.

Mesmo depois de ter sido expulso da corporação e pelas denuncias apresentadas em seu livro ele confessa que não recebeu nenhuma ameaça: “Em maio terá audiência sobre a minha expulsão onde serão ouvidas as testemunhas de acusação se eu pudesse voltaria para o quartel, apenas para dizer aos meus oficiais que eles não são os donos de PM e sim o povo”, finaliza.

Matéria feita com base na sexta coletiva de imprensa do 7º Curso Descobrir São Paulo - Descobrir-se Repórter da Oboré e Escola do Parlamento. Entrevistado jornalista Bruno Paes Manso. Coordenador do curso Milton Bellintani.

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