Fonte: Nova Jornalista |
Sobre a Televisão é
uma obra publicada no Brasil em 1997, o livro do autor francês Pierre Bourdieu
(Destacado sociólogo do século XX), retrata um pouco da censura oculta que
existe na televisão por trás de discursos falsos e imagens que muitas vezes não
simbolizam a verdade daquilo que realmente está acontecendo.
Sua
obra é embasada na influência que a televisão adquiriu na vida das pessoas e
naquilo que ela deixou de ser. Em seu Prológo do livro o autor, confessa que
tentou colocar em primeiro plano, um discurso diferente, analítico e crítico.
Bourdieu espera que suas analises ajudem aos profissionais da televisão
inclusive aos jornalistas que façam com que essa mídia possa servir como
instrumento de democracia e não de opressão simbólica.
O
autor critica a posição a qual cientistas e/ou filósofos que são convidadas a
irem a um programa de televisão para discutirem sobre um determinado assunto,
se submetem em serem privados de dizerem aquilo que pensam, para ele a
televisão é como uma caixa de narcisismo um ponto de encontro de narcisistas
que estão ali somente para serem vistos e para agradarem o jornalista que os
convidou.
Ao
falar da “censura invisível” nos programas jornalísticos o autor critica o fato
das emissoras colocarem assuntos que não apresentam soluções, ou que não dão
oportunidade do telespectador em debater sobre, para ele assuntos fúteis que
não chocam ninguém tomam o tempo na TV dos assuntos de interesse social.
Para
o escritor, se a TV não chamar a atenção do telespectador ela está se
submetendo a autocensura, porém ele leva essa explicação para o fato da mídia
ter aberto suas portas aos programas sensacionalistas, sejam aqueles que
mostram sangue ou sexo não importa, o importante é conseguir vender anúncios e
se manter.
Bourdieu
comenta o fato das emissoras dependerem de seus anunciantes e/ou do Estado que
dá a ela a concessão para atuação, assim eles conseguem determinar o que é
transmitido por ela. Em seu livro ele cita exemplos de emissoras americanas que
tem como proprietários ou sócios, empresários de outras áreas.
Ainda
dentro dessa critica apontada pelo autor, no tema “A circulação circular da
informação” ele explica o conceito da audiência na televisão que ajuda os
produtores a medir o interesse do público, além de proporcionar condições
comerciais. A audiência é o juízo final que irá determinar o tipo e estilo de
jornalismo que a emissora terá.
Neste trecho o autor faz uma comparação da diferença dos profissionais de
cinema para os profissionais da redação, ambos possuem uma equipe, porém o
cinema os reconhece nos scripts que sobem após o final do filme, já nas
redações esse coletivo se restringe a um grupo de jornalistas que se deixam
levar pelo interesse de serem sempre os primeiros a chegarem a um determinado
local e darem uma notícia antes de seus concorrentes, esse grupo de
profissionais passam a maior parte do tempo na redação discutindo o que os
outros jornais deram e o que eles deixaram de dar. Esse pensamento do autor se
reforça com o trecho “A urgência e o fast thinking” essa espécie de
concorrência entre esses profissionais gera uma série de consequências. O fast
thinking (pensamento rápido) na televisão pode ocorrer que aqueles que
realmente têm alguma coisa a dizer de importante não sejam ouvidos.
Fonte: Educar para crescer |
Para
tratar os tipos de censura da televisão, Bourdieu usa como exemplo os programas
de telejornais que mostram algo importante de forma insignificante, como dito
no início do texto o autor abomina o uso de imagens que muitas vezes não
retratam o que realmente está acontecendo, numa forma que ele se refere de
“Mostrar ocultando”. Neste mesmo trecho do livro ele alerta que a TV desempenha
um papel importante na cobertura de manifestações e querer se manifestar sem
fazer uso dela é como dar um tiro no pé, pois é através dessa mídia que elas
tomarão grandes proporções podendo atingir o esperado.
Bourdieu
mostra-se indignado ao falar sobre apresentadores e/ou jornalistas que se
deixam levar pelos debates verdadeiramente falsos, ou falsamente verdadeiros, que
fazem perguntas aos entrevistados que não possuem peso nenhum, que se mostram
despreparados permitindo assim que os entrevistados respondam aquilo que bem
querem ou até mesmo as perguntas que não foram feitas.
“As
concorrências e fatias de mercado” faz com que muitos jornalistas coloquem em
jogo a própria reputação em busca do furo. Estar sempre a frente é essa
bandeira que eles defendem, porém muitos acabam se surpreendendo com coisas não
surpreendentes e fazendo pouco caso de coisas espantosas. Assim os próprios
profissionais abrem brecha para a banalização e utilizam assuntos que não
levantam problemas ou que não abrem portas para discussões e debates.
“Sem
saber os jornalistas deixaram se submeter à censura”, Bourdieu garante essa
colocação ao falar da TV na década de 50 quando ela ainda estava em experiência
no Brasil e possuía poucos programas jornalísticos com uma grade voltada para a
cultura.
Em
quase boa parte do seu livro o autor se refere à pessoa que pela audiência
passa a ter influência da televisão e os programas que começam a ter influência
na vida das pessoas, além dos diferentes papeis que o jornalista desempenha, o
autor chega a comparar este profissional com um bombeiro, que pode contribuir
para criar um acontecimento pondo em discussão em uma notícia.
Bourdieu
fala da luta da audiência em nome da democracia para dar as pessoas à
possibilidade de julgar sendo isto é conhecido como legalidade externa e
puramente comercial.
Saindo
das análises do que a TV se tornou com a influência de alguns programas
jornalísticos e sua grade, Bourdieu entra no quesito “A influência do
jornalismo” e alerta que essa influência não é nada radical. De acordo com o
escritor o campo jornalístico impõe sobre os diferentes campos culturais, sendo
este um campo com peso comercial e muito maior.
A
televisão contribui para orientar toda uma produção no sentido em que seus
jornalistas se esforçam para impor sua visão do campo, embora sua eficiência se
efetive quase sempre através de ações singulares seus efeitos sobre outros
campos e determinantes pelas estruturas que os caracterizam.
Em
relação aos jogos olímpicos, o autor entra na questão que a TV dá mais
importância a um jogo e/ou um atleta, do que o outro. De acordo com Bourdieu,
será preciso analisar as diferentes intensificações da produção que a televisão
produziu sobre os jogos olímpicos assim cada um sofre efeitos para as ações,
buscando a expansão do universalismo.
Pierre
Bourdieu mostrou sua indignação com a forma que profissionais da televisão
tratam a televisão, um instrumento que possuiu influência significativa na vida
das pessoas, assim sendo ele conseguiu criar este livro do qual ele mostra o
quanto os programas jornalísticos permitiram se autocensurar. O escritor citou
exemplos, colocou seu ponto de vista e falou um pouco em cada trecho de suas
experiências.
Pierre
Bourdieu dedicou parte da sua vida a estudos relacionados à lógica da história
e da ciência, formou-se em letras aos 21 anos, mas tarde cursou filosofia. Em
um período da sua vida o escritor teve que se dedicar ao serviço militar na
guerra da Argélia, a partir dessa experiência Bourdieu começou a dedicar-se a
questões sociais e políticas. Mas tarde de volta para França ele iniciou a
carreira de professor e treinava grupos de acadêmicos para atuarem nas áreas
sociais.
Dentre
suas principais obras estão: O poder simbólico; As regras da arte; O ofício do
sociólogo e A distinção crítica social do julgamento. Bourdieu nasceu em 1930
em Denguin – França e faleceu
em Paris em 23 de janeiro de 2002.