quinta-feira, 24 de abril de 2014

Bourdieu criticou e a TV nada mudou - Resenha: Sobre a Televisão

Fonte: Nova Jornalista
Sobre a Televisão é uma obra publicada no Brasil em 1997, o livro do autor francês Pierre Bourdieu (Destacado sociólogo do século XX), retrata um pouco da censura oculta que existe na televisão por trás de discursos falsos e imagens que muitas vezes não simbolizam a verdade daquilo que realmente está acontecendo.
Sua obra é embasada na influência que a televisão adquiriu na vida das pessoas e naquilo que ela deixou de ser. Em seu Prológo do livro o autor, confessa que tentou colocar em primeiro plano, um discurso diferente, analítico e crítico. Bourdieu espera que suas analises ajudem aos profissionais da televisão inclusive aos jornalistas que façam com que essa mídia possa servir como instrumento de democracia e não de opressão simbólica.
O autor critica a posição a qual cientistas e/ou filósofos que são convidadas a irem a um programa de televisão para discutirem sobre um determinado assunto, se submetem em serem privados de dizerem aquilo que pensam, para ele a televisão é como uma caixa de narcisismo um ponto de encontro de narcisistas que estão ali somente para serem vistos e para agradarem o jornalista que os convidou.
Ao falar da “censura invisível” nos programas jornalísticos o autor critica o fato das emissoras colocarem assuntos que não apresentam soluções, ou que não dão oportunidade do telespectador em debater sobre, para ele assuntos fúteis que não chocam ninguém tomam o tempo na TV dos assuntos de interesse social.
Para o escritor, se a TV não chamar a atenção do telespectador ela está se submetendo a autocensura, porém ele leva essa explicação para o fato da mídia ter aberto suas portas aos programas sensacionalistas, sejam aqueles que mostram sangue ou sexo não importa, o importante é conseguir vender anúncios e se manter.
Bourdieu comenta o fato das emissoras dependerem de seus anunciantes e/ou do Estado que dá a ela a concessão para atuação, assim eles conseguem determinar o que é transmitido por ela. Em seu livro ele cita exemplos de emissoras americanas que tem como proprietários ou sócios, empresários de outras áreas.
Ainda dentro dessa critica apontada pelo autor, no tema “A circulação circular da informação” ele explica o conceito da audiência na televisão que ajuda os produtores a medir o interesse do público, além de proporcionar condições comerciais. A audiência é o juízo final que irá determinar o tipo e estilo de jornalismo que a emissora terá.
Neste trecho o autor faz uma comparação da diferença dos profissionais de cinema para os profissionais da redação, ambos possuem uma equipe, porém o cinema os reconhece nos scripts que sobem após o final do filme, já nas redações esse coletivo se restringe a um grupo de jornalistas que se deixam levar pelo interesse de serem sempre os primeiros a chegarem a um determinado local e darem uma notícia antes de seus concorrentes, esse grupo de profissionais passam a maior parte do tempo na redação discutindo o que os outros jornais deram e o que eles deixaram de dar. Esse pensamento do autor se reforça com o trecho “A urgência e o fast thinking” essa espécie de concorrência entre esses profissionais gera uma série de consequências. O fast thinking (pensamento rápido) na televisão pode ocorrer que aqueles que realmente têm alguma coisa a dizer de importante não sejam ouvidos.
Fonte: Educar para crescer

Para tratar os tipos de censura da televisão, Bourdieu usa como exemplo os programas de telejornais que mostram algo importante de forma insignificante, como dito no início do texto o autor abomina o uso de imagens que muitas vezes não retratam o que realmente está acontecendo, numa forma que ele se refere de “Mostrar ocultando”. Neste mesmo trecho do livro ele alerta que a TV desempenha um papel importante na cobertura de manifestações e querer se manifestar sem fazer uso dela é como dar um tiro no pé, pois é através dessa mídia que elas tomarão grandes proporções podendo atingir o esperado.
Bourdieu mostra-se indignado ao falar sobre apresentadores e/ou jornalistas que se deixam levar pelos debates verdadeiramente falsos, ou falsamente verdadeiros, que fazem perguntas aos entrevistados que não possuem peso nenhum, que se mostram despreparados permitindo assim que os entrevistados respondam aquilo que bem querem ou até mesmo as perguntas que não foram feitas.
“As concorrências e fatias de mercado” faz com que muitos jornalistas coloquem em jogo a própria reputação em busca do furo. Estar sempre a frente é essa bandeira que eles defendem, porém muitos acabam se surpreendendo com coisas não surpreendentes e fazendo pouco caso de coisas espantosas. Assim os próprios profissionais abrem brecha para a banalização e utilizam assuntos que não levantam problemas ou que não abrem portas para discussões e debates.
“Sem saber os jornalistas deixaram se submeter à censura”, Bourdieu garante essa colocação ao falar da TV na década de 50 quando ela ainda estava em experiência no Brasil e possuía poucos programas jornalísticos com uma grade voltada para a cultura.
Em quase boa parte do seu livro o autor se refere à pessoa que pela audiência passa a ter influência da televisão e os programas que começam a ter influência na vida das pessoas, além dos diferentes papeis que o jornalista desempenha, o autor chega a comparar este profissional com um bombeiro, que pode contribuir para criar um acontecimento pondo em discussão em uma notícia.
Bourdieu fala da luta da audiência em nome da democracia para dar as pessoas à possibilidade de julgar sendo isto é conhecido como legalidade externa e puramente comercial.
Saindo das análises do que a TV se tornou com a influência de alguns programas jornalísticos e sua grade, Bourdieu entra no quesito “A influência do jornalismo” e alerta que essa influência não é nada radical. De acordo com o escritor o campo jornalístico impõe sobre os diferentes campos culturais, sendo este um campo com peso comercial e muito maior.
A televisão contribui para orientar toda uma produção no sentido em que seus jornalistas se esforçam para impor sua visão do campo, embora sua eficiência se efetive quase sempre através de ações singulares seus efeitos sobre outros campos e determinantes pelas estruturas que os caracterizam.
Em relação aos jogos olímpicos, o autor entra na questão que a TV dá mais importância a um jogo e/ou um atleta, do que o outro. De acordo com Bourdieu, será preciso analisar as diferentes intensificações da produção que a televisão produziu sobre os jogos olímpicos assim cada um sofre efeitos para as ações, buscando a expansão do universalismo.
Pierre Bourdieu mostrou sua indignação com a forma que profissionais da televisão tratam a televisão, um instrumento que possuiu influência significativa na vida das pessoas, assim sendo ele conseguiu criar este livro do qual ele mostra o quanto os programas jornalísticos permitiram se autocensurar. O escritor citou exemplos, colocou seu ponto de vista e falou um pouco em cada trecho de suas experiências.
Pierre Bourdieu dedicou parte da sua vida a estudos relacionados à lógica da história e da ciência, formou-se em letras aos 21 anos, mas tarde cursou filosofia. Em um período da sua vida o escritor teve que se dedicar ao serviço militar na guerra da Argélia, a partir dessa experiência Bourdieu começou a dedicar-se a questões sociais e políticas. Mas tarde de volta para França ele iniciou a carreira de professor e treinava grupos de acadêmicos para atuarem nas áreas sociais.
Dentre suas principais obras estão: O poder simbólico; As regras da arte; O ofício do sociólogo e A distinção crítica social do julgamento. Bourdieu nasceu em 1930 em Denguin – França e faleceu em Paris em 23 de janeiro de 2002.