A história do isabelense José Gaspar, 71, que aproveita a carcaça bovina para o artesanato
É nos fundos de uma casa na rua
Oswaldo Cruz, Bairro Lanifício, em Santa Isabel que José Gaspar Barbosa passa
horas do seu dia colocando em prática aquilo que aprendeu com o pai ainda na
infância, transformar em arte restos de carcaça bovina. O que parece não ter
mais serventia o homem de 71 anos, transforma em anéis, enfeites de sala, vasos
de flor, pássaros e todos os peixes que a mente dos que veem sua arte conseguem
enxergar.
Gaspar em sua casa junto das obras que produz utilizando a carcaça do boi e da vaca. |
Poucas tradições passam de
geração a geração, o artesanato feito com chifres de boi passou do pai Miguel
Eleutério Barbosa, para o filho José Gaspar. Rapidamente ele faz questão de
expor na mesa de sua casa, peças produzidas por ele há cerca de seis meses. Com
o osso ele faz pequenas cabeças de boi, anéis e outros enfeites.
Cada peça de osso que chega
começa a ser trabalhada e, dependendo do tamanho, é cortada, lixada e em
seguida polida. O mesmo procedimento ele faz com o chifre que é colocado na
água fervendo e em seguida modelado na morsa chegando ao formato daquilo que
você deseja criar. Depois de cortar a peça para fazer a cabeça do peixe eu
ainda utilizo as sobras para fazer as barbatanas. As escamas faço com a faca,
desenhando, uma por uma”, explica. Para fazer o olho dos peixes Gaspar utiliza
bijuterias.
Quando não está em casa
trabalhando em sua arte, Gaspar encontra os amigos da mesma idade em bares da
cidade. Seu passatempo é relembrar histórias de uma antiga Santa Isabel que ele
traz na memória, e de importantes personagens que por aqui passaram.
Questionado se um dos três filhos
seguirão a arte do pai ele é direto: “Meus filhos não querem saber disso. Na
idade deles eu também não queria, só me interessei já depois de aposentado”.
Assim como o pai que foi trançador de couro, Gaspar faz sua arte por hobby e
diz não pretender obter lucro com elas: “Não sei se vou vender ou só expor,
pois para produzir dependo da carcaça do boi, que é difícil encontrar”, revela.
Os ossos são doados por açougue,
mas o chifre é um dos itens que não tem nestes lugares, pois as peças vêm na
maioria das vezes sem a cabeça do animal e ele depende da doação de alguns
conhecidos que possuem criação nos sítios da cidade. “Está provado por A + B
que do boi e da vaca podemos aproveitar tudo exceto o berro, mas podemos fazer
o berrante”, finaliza o artista.
O texto foi originalmente publicado na Ed. 1.048 do Jornal Ouvidor.
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