quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A arte que do boi aproveita tudo

A história do isabelense José Gaspar, 71, que aproveita a carcaça bovina para o artesanato
É nos fundos de uma casa na rua Oswaldo Cruz, Bairro Lanifício, em Santa Isabel que José Gaspar Barbosa passa horas do seu dia colocando em prática aquilo que aprendeu com o pai ainda na infância, transformar em arte restos de carcaça bovina. O que parece não ter mais serventia o homem de 71 anos, transforma em anéis, enfeites de sala, vasos de flor, pássaros e todos os peixes que a mente dos que veem sua arte conseguem enxergar. 
Gaspar em sua casa junto das obras que produz utilizando a carcaça do boi e da vaca.
Poucas tradições passam de geração a geração, o artesanato feito com chifres de boi passou do pai Miguel Eleutério Barbosa, para o filho José Gaspar. Rapidamente ele faz questão de expor na mesa de sua casa, peças produzidas por ele há cerca de seis meses. Com o osso ele faz pequenas cabeças de boi, anéis e outros enfeites.
Cada peça de osso que chega começa a ser trabalhada e, dependendo do tamanho, é cortada, lixada e em seguida polida. O mesmo procedimento ele faz com o chifre que é colocado na água fervendo e em seguida modelado na morsa chegando ao formato daquilo que você deseja criar. Depois de cortar a peça para fazer a cabeça do peixe eu ainda utilizo as sobras para fazer as barbatanas. As escamas faço com a faca, desenhando, uma por uma”, explica. Para fazer o olho dos peixes Gaspar utiliza bijuterias.
Quando não está em casa trabalhando em sua arte, Gaspar encontra os amigos da mesma idade em bares da cidade. Seu passatempo é relembrar histórias de uma antiga Santa Isabel que ele traz na memória, e de importantes personagens que por aqui passaram.
Questionado se um dos três filhos seguirão a arte do pai ele é direto: “Meus filhos não querem saber disso. Na idade deles eu também não queria, só me interessei já depois de aposentado”. Assim como o pai que foi trançador de couro, Gaspar faz sua arte por hobby e diz não pretender obter lucro com elas: “Não sei se vou vender ou só expor, pois para produzir dependo da carcaça do boi, que é difícil encontrar”, revela.
Os ossos são doados por açougue, mas o chifre é um dos itens que não tem nestes lugares, pois as peças vêm na maioria das vezes sem a cabeça do animal e ele depende da doação de alguns conhecidos que possuem criação nos sítios da cidade. “Está provado por A + B que do boi e da vaca podemos aproveitar tudo exceto o berro, mas podemos fazer o berrante”, finaliza o artista. 

O texto foi originalmente publicado na Ed. 1.048 do Jornal Ouvidor.
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