Aos 86 anos de vida Benoni Silva dedicou mais de setenta à prática de farmácia, profissão celebrada na última quarta-feira (20/01): Dia do farmacêutico. Nessa longa jornada colecionou boas histórias, vendeu e criou os seus próprios remédios
Ainda com ruas centenárias de
terra batida, recém elevada à condição de cidade, com casas de pau-a-pique,
telhas feitas à mão Igaratá não tinha médico. A paisagem bucólica era cercada
pelo ribeirão das Palmeiras que desaguava ali pertinho, no Jaguari.
Certo dia de 1954 o ônibus da Eroles
parou defronte ao Bar do Amadeu e ali desceu, vindo da Capital, o jovem Benoni
Silva, 25 anos. Dentro da mala, além das poucas peças de roupas, uma
experiência de anos atuando como profissional de farmácia e a disposição de assumir
a administração da primeira farmácia da velha Igaratá.
"Em 20 de janeiro é celebrado o dia do farmacêutico".
Hoje Benoni mora com a mulher,
Isabel Pereira Silva, 76, e cultiva netos e bisnetos em sua casa na Rua XV de
Novembro, centro de Santa Isabel. Caminhando com o auxílio de uma bengala,
apesar das pernas e mãos tremulas, tem voz e fala firme e com doses de precisão
relata, como se revivesse, todos os dias, os momentos trabalhados nas farmácias
de Minas Gerais e de São Paulo.
Nascido em São José dos Campos,
Benoni mudou-se para Rio Piracicaba, cidade do interior de Minas Gerais, aos
oito anos de idade, acompanhando o pai que era ferroviário na Central do
Brasil. A mãe, morreu ainda cedo e Benoni, filho do meio, começou a trabalhar
aos nove anos de idade na limpeza de uma farmácia próximo à sua casa. Já na
adolescência ele largou a vassoura e tornou-se vendedor no recinto. Não demorou
muito e Benoni começou a manipular no laboratório, os medicamentos que vendia.
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Em
destaque Benoni aos 23 anos, na 1º turma do Curso de Oficiais de Farmácia de 1952, em Rio Piracicaba – MG. |
O menino deixou o ensino médio
para trás, depois que seu pai queria colocá-lo em um seminário: “Eu não queria
ser padre, queria era namorar”, recorda sorrindo. Rio Piracicaba fica a cerca
de 710 km de Belo Horizonte e quase 800 km de Ouro Preto, essas distâncias
impediram Benoni de entrar na faculdade e tornar-se um profissional de farmácia
formado. Hoje na prateleira de sua sala entre os porta-retratos da família,
repousa a foto dele e da 1º turma do Curso de Oficiais de Farmácia de 1952,
licenciado pelo Departamento de Saúde de Rio Piracicaba: “Com este curso, não
me tornei um farmacêutico de formação, mas consegui a licença para atuar como
profissional de farmácia”, ressalta.
Quando já adulto, Benoni voltou
para São Paulo, onde trabalhou em farmácias próximas as ruas São Bento e Praça
da Sé: “Ali conheci um homem que tinha uma farmácia em Igaratá. Ele estava
disposto a largar o ponto e me ofereceu, então eu aceitei e me mudei para lá”,
diz.
Na velha Igaratá, Benoni se
tornou o proprietário da farmácia Nossa Senhora das Graças, e lá ficou por seis
anos: “Eu atendia pacientes que chegavam já com o receituário médico, mas havia
muitas pessoas que, na falta de um médico, me procuravam para indicar a elas um
remédio. Além de atender na farmácia eu era chamado durante as madrugadas para
atender nas casas e, para chegar até os pacientes, ia a cavalo ou de charretes.
Era uma aventura que hoje não existe mais”, recorda.
Benoni saiu de Igaratá antes que
a cidade velha fosse engolida pelas águas da Represa Jaguari. Em 1960, mudou-se
para Santa Isabel onde montou a Farmácia São Pedro, que existe até hoje na Rua
João Pessoa, no centro da cidade. Aqui conheceu Isabel com quem teve os filhos
Valesca, Adauani e Osni. Além da farmácia Benoni também foi atleta, no futebol
era centroavante e tinha lugar garantido nos times da cidade, também
representava o município nos jogos de vôlei. Na prateleira de sua sala, um
troféu de 3º lugar na competição ocorrida em Nazaré Paulista em 1996, é a prova
de que ele também era bom no voleibol.
Benoni hoje aos 86, em sua casa
em Santa Isabel.
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Benoni deixou de vez a farmácia
no início dos anos 2000 e junto com a mulher divide a atenção dos cinco netos e
três bisnetos. As mãos, hoje enrugadas, que começou varrendo farmácia, também
criou expectorantes para a cura de tosse e até pomadas para manchas de pele,
que sua mulher faz questão de dizer: “Foi a melhor pomada que alguém já
inventou”.
O texto foi originalmente publicado na Ed. 1.058 do Jornal Ouvidor e foi editado pelo jornalista Roberto Drumond. Clique Aqui e veja a matéria completa.
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