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Fonte: Google |
Cabeça
de Turco é uma obra de 1985, escrita pelo jornalista alemão Gunter Wallraff. O
livro é o resultado de dois anos de investigações deste jornalista que nesse
período inteiro abandonou sua real identidade para se tornar o turco Ali
Sinirlioglu e assim desvendar a discriminação que existia entre os alemães
contra os milhares de imigrantes, que viviam naquele país.
Em
outra vida, porém sem deixar de ser repórter Wallraff passa a ser o imigrante
turco Ali, que vive na Alemanha e que está sujeito a todos os tipos de
trabalhos pesados para não ser deportado para o seu país de origem, pelo menos
era isso que ele alegava quando procurava empregos nas indústrias e canteiros
de obras alemães. O jornalista estava disposto a fazer parte de uma minoria que
vivia na pior em busca de denunciar aquilo que ele já tinha conhecimento, mas
nunca vivenciou.
Sarcástico
e atraente do início ao fim “Cabeça de Turco” é um livro escrito por um alemão
que sem medo denunciou o preconceito que corria dentro dos porões de sua
própria sociedade.
Uma
das características desta obra é como o autor soube interpretar o papel do
robusto Ali que com o uso de uma peruca aparentava ter 26 anos, quando na verdade
estava em um corpo de 43 anos de um homem que era calvo. Wallraff passou por um
intenso treinamento para aprender a falar o alemão pronunciado pelos turcos, desrespeitou
qualquer concordância verbal. O escritor passou a ser o principal ator da
história que tinha que descrever em detalhes as humilhações que sofria e as que
testemunhava, viver várias cenas em um único dia e tomar nota de tudo sem se
esquecer dos nomes dos humilhadores e das empresas a quais faziam parte.
Após
publicar em vários jornais um anuncio sobre um estrangeiro robusto a procura de
emprego, disposto ainda a receber pouco. O turco Ali conseguiu trabalho nas
principais indústrias dentre as denunciadas no livro estão à Industria August
Thyssen Hutte – ATH e um restaurante da rede Mcdonalds, onde o autor descreve
que chegava a usar o mesmo pano que limpava o chão do restaurante e dos
banheiros na limpeza das mesas.
Humilhações
e indiferenças Wallraff começou a sofrer ao circular, na pele de Ali, até em
festas dos alemães burgueses e inclusive dentro das religiões das quais tentou
fazer parte alegando que era uma forma de não ser deportado para o seu país de
origem e teve o batismo católico negado.
O
que impressiona no autor é a potencialidade de conseguir descrever tudo e se
preocupar com os mínimos detalhes que certamente fazem os leitores se sentirem
dentro da história. Desde a humilhação de ser encarregado a limpar um banheiro
imundo que vivia entupido sujo de urina e fezes em um canteiro de obras, em
Dusseldorf até o risco de trabalhar sem máscaras dentro de camarás de gás na
Thyssen onde constantemente ocorriam vazamentos, no entanto os imigrantes eram
obrigados a continuar na limpeza, como se nada estivesse acontecendo.
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Fonte: Blog.zeit.de |
No capítulo “Cobaia humana” Gunter Wallraff desafia os seus próprios limites ao
aceitar trabalhar como cobaia no Instituto LAB um laboratório onde os
imigrantes ou ex-presidiários permitiam que lhes fosse retirado sangue de hora
em hora, além de aceitar a tomar medicamentos para testes. O comprometimento de
sua saúde obrigou Wallraff a abandonar esta parte da investigação pela metade
porém os relatos são o suficiente para chocar.
Como
todo o livro reportagem mais do que tornar público sua experiência o autor
contou com o depoimento de pessoas que a mais tempo do que ele viveram este
período de exclusão da sociedade alemã. Ainda na Tyssen ele conheceu um alemão
de nome turco Yuksel Atasayar, este foi o único que percebeu que Wallraff ali
estava para conseguir reverter àquela situação, pois por vezes observava o jornalista
em um canto da fabrica fazendo suas anotações durante os curtos intervalos que
tinham. Yuksel fazia questão de passar informações importantes sem saber, nem questionar
onde e como Wallraff as utilizaria.
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Fonte: Classes de Periodismo |
Considerado
o sinônimo do jornalista investigativo na Alemanha Gunter Wallraff produziu uma
matéria longa que deu origem ao seu livro “Cabeça de Turco”. O autor e
jornalista consegue ser antes de tudo o ator que faz usos de cabelos e bigodes
falsos, lentes de contato e se preciso for até cadeira de rodas para demonstrar
não uma deficiência, mas uma fragilidade ignorada pelo interesse de alemães que
procuram empurrar para um rico turco o pior dos cachões alegando ser o melhor
da loja, só porque o mesmo está no fim da vida.
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Fonte: Google |
Wallraff
denunciou o tráfico de mão de obra barata que faziam dos turcos e outros
imigrantes escravos de uma Alemanha que em 1985 governada por Mikhail Gorbachev,
líder da União das Repúblicas Soviéticas Socialistas – URSS caminhava ainda a
curtos passos para aquela que em novembro de 1989 seria a reunificação dos seus
povos com a queda do muro de Berlim que decretaria ainda o fim da Guerra Fria. O
país ao mesmo tempo que se mostrava livre estava preso a um preconceito étnico.
Gunter
Wallraff conquistou com “Cabeça de turco” em 1985 o prêmio de literatura de
direitos humanos da França. O livro, considerado o melhor pós-guerra, vendeu
mais de um milhão de exemplares só na primeira semana de lançamento e
proporcionou centenas de processos contra a empresa Thyssen.
Wallraff
é autor de outras obras como Fabricas de Mentira (1977) – O falso repórter Hans
Esser que entrou para trabalhar no tabloide Bild Zeitung, para mostrar como o
veículo distorcia as notícias. Outra obra que se tem conhecimento é A
Descoberta de uma Conspiração (1976). Atualmente o escritor está com 71 anos e
não há informações se ele ainda vive na Alemanha ou em outro país.
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