domingo, 11 de maio de 2014

Resenha: A Vida que Ninguém Vê - Eliane Brum

Fonte: Arquipélago Editorial
A vida que ninguém vê é uma obra que nasceu de crônicas que foram publicadas em 1999, em um jornal do Rio Grande do Sul. São histórias reais que traçam o perfil de pessoas comuns. Marcelo Rech era Diretor de Redação do Jornal Zero Hora e lançou o desafio imediatamente aceito pela repórter Eliane Brum, cabia a ela a função de ir atrás de pautas que pudessem contar boas histórias.

Eliane que nasceu em março de 1966 na cidade de Ijuí – RS foi para a capital ainda jovem e em 1988, formou-se em jornalismo, pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Depois de um texto que fez na faculdade, conseguiu um estágio no Zero Hora e ali ficou durante 11 anos.

Sem sair do seu perfil de repórter, Eliane vai às ruas de Porto Alegre onde se depara com diferentes personagens que chamam a sua atenção. Esses personagens mal sabiam que depois da conversa com ela, teriam suas vidas, suas dores e seus problemas compartilhados em uma coluna no jornal na edição de sábado, para quem quisesse ler.

Uma característica dos textos desta obra é a forma que a autora descreve cada movimento, cada gesto dos personagens, os detalhes em sua volta, a dor, o grito, a última frase que foi dita, à lágrima que cai do rosto daquele que acabara de enterrar um parente, seja este mulher, filho, ou os dois.

Como não se emocionar com histórias como a de Antonio Antunes que perdeu a mulher Lizete, que foi mais uma vítima da negligência existente na saúde pública. Um deslocamento na placenta causou uma hemorragia em Lizete, que fez com que a mesma perdesse a criança que trazia em seu útero há oito meses, este bebe seria o quinto fruto do seu amor com Antonio. Lizete morreu cinco dias depois, deixou o marido e quatro filhos, dois sadios e outros dois, Fernanda e Luiz Oscar que sofrem de paralisia cerebral ficaram em hospitais diferentes, Antonio teve que voltar para a vida normal e lutar para manter vivos os dois filhos um deles ainda respirava com a ajuda de aparelhos. 

Este capítulo “O dia seguinte” contado numa forma literária, para ilustrar o sofrimento deste pobre personagem, também mostra todo empenho que a repórter e autora teve para ouvir os dois lados da história e colher os depoimentos do administrador do hospital e do chefe do plantão, responsável pelos profissionais que atenderam Lizete. Não somente este texto, mas todos os outros que compõem esta obra conseguem mesclar apuração e crônica.

A autora demonstra a sua indignação em histórias como a de Camila, a menina de dez anos, que vivia em um barraco e pedia dinheiro nos cruzamentos das ruas de Porto Alegre para sustentar os quatro irmãos, o pai desempregado e a mãe. A menina pobre como todas as outras crianças de sua época inventava versos para conseguir ganhar dos motoristas o dinheiro que lhe compraria o pão. O que Camila muito conseguia era um vidro que se fechava nos carros, numa maneira onde segundo a autora as pessoas encontraram para se defender do peso na sua consciência e não terem participação na miséria daquela garotinha.

Era uma sexta-feira, quando Camila fugiu da Febem com outras amiguinhas e com a inocência que sempre teve a menina que fazia poesias no semáforo entrou nas águas do Parque Marinha do Brasil mesmo se saber nadar. Camila só saiu daquelas águas resgatada pelos bombeiros, mas já era tarde.

“A questão é saber, quantas Camilas precisarão morrer antes de baixarmos o vidro de nossa inconsciência. Você sabe?” é o questionamento feito por Eliane para aqueles que a certamente iriam ler sua coluna no sábado, ou o seu livro anos mais tarde, e lembrariam na menina que eles ignoraram nos semáforos.

Na verdade as melhores histórias da obra não são somente estas, como a de Antonio e Camila que fazem com que o leitor se emocione, pois trazem relatos tristes de acontecimentos que marcaram vidas, mas também há histórias de superação como a de “Dona Maria tem olhos brilhantes”.

Dona Maria teve dez filhos e enfrentou o marido para que todos eles entrassem na escola, depois da morte do marido Maria foi atrás do tempo perdido e matriculo-se em várias escolas para aprender a ler, as primeiras tentativas não deram certo, mas não por culpa de Maria e sim dos que tinham má vontade e não queriam ensiná-la. A autora consegue valorizar a história pela garra da personagem em não desistir de algo que deveria ser de livre acesso, o aprendizado.

O doce velhinho dos comerciais que ainda guarda o revolver que um dia apontou para a própria cabeça numa atitude desesperadora, o enterro de pobre, história de um olhar que conta a vida de Israel, um menino especial, mas que assim como “Dona Maria” tinha um sonho de estudar e conseguiu, dentre muitos outros personagens contribuíram com suas histórias para ilustrarem esta obra.    
Fonte: atarde.uol.com.br

Foram um total de 46 perfis feitos por Eliane Brum em sua coluna no Jornal Zero Hora, onde 25 ilustram o seu livro “A vida que ninguém vê”. Com este trabalho a autora venceu em 2007 o prêmio Jabuti de melhor livro reportagem.


Eliane já escreveu Gotas da minha infância; Coluna Prestes: O avesso da lenda; O olho da rua – Uma repórter em busca da literatura da vida real e um livro de romance chamado Uma duas. Em 2013 Eliane saiu da revista Época onde manteve uma coluna todas as segundas-feiras durante 13 anos. Atualmente Eliane trabalha no portal El País Brasil.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Resenha: Cabeça de Turco - Jornalista denuncia o preconceito dentro de sua própria sociedade

Fonte: Google
Cabeça de Turco é uma obra de 1985, escrita pelo jornalista alemão Gunter Wallraff. O livro é o resultado de dois anos de investigações deste jornalista que nesse período inteiro abandonou sua real identidade para se tornar o turco Ali Sinirlioglu e assim desvendar a discriminação que existia entre os alemães contra os milhares de imigrantes, que viviam naquele país.

Em outra vida, porém sem deixar de ser repórter Wallraff passa a ser o imigrante turco Ali, que vive na Alemanha e que está sujeito a todos os tipos de trabalhos pesados para não ser deportado para o seu país de origem, pelo menos era isso que ele alegava quando procurava empregos nas indústrias e canteiros de obras alemães. O jornalista estava disposto a fazer parte de uma minoria que vivia na pior em busca de denunciar aquilo que ele já tinha conhecimento, mas nunca vivenciou.

Sarcástico e atraente do início ao fim “Cabeça de Turco” é um livro escrito por um alemão que sem medo denunciou o preconceito que corria dentro dos porões de sua própria sociedade.

Uma das características desta obra é como o autor soube interpretar o papel do robusto Ali que com o uso de uma peruca aparentava ter 26 anos, quando na verdade estava em um corpo de 43 anos de um homem que era calvo. Wallraff passou por um intenso treinamento para aprender a falar o alemão pronunciado pelos turcos, desrespeitou qualquer concordância verbal. O escritor passou a ser o principal ator da história que tinha que descrever em detalhes as humilhações que sofria e as que testemunhava, viver várias cenas em um único dia e tomar nota de tudo sem se esquecer dos nomes dos humilhadores e das empresas a quais faziam parte.

Após publicar em vários jornais um anuncio sobre um estrangeiro robusto a procura de emprego, disposto ainda a receber pouco. O turco Ali conseguiu trabalho nas principais indústrias dentre as denunciadas no livro estão à Industria August Thyssen Hutte – ATH e um restaurante da rede Mcdonalds, onde o autor descreve que chegava a usar o mesmo pano que limpava o chão do restaurante e dos banheiros na limpeza das mesas. 

Humilhações e indiferenças Wallraff começou a sofrer ao circular, na pele de Ali, até em festas dos alemães burgueses e inclusive dentro das religiões das quais tentou fazer parte alegando que era uma forma de não ser deportado para o seu país de origem e teve o batismo católico negado.

O que impressiona no autor é a potencialidade de conseguir descrever tudo e se preocupar com os mínimos detalhes que certamente fazem os leitores se sentirem dentro da história. Desde a humilhação de ser encarregado a limpar um banheiro imundo que vivia entupido sujo de urina e fezes em um canteiro de obras, em Dusseldorf até o risco de trabalhar sem máscaras dentro de camarás de gás na Thyssen onde constantemente ocorriam vazamentos, no entanto os imigrantes eram obrigados a continuar na limpeza, como se nada estivesse acontecendo.   

Fonte: Blog.zeit.de
No capítulo “Cobaia humana” Gunter Wallraff desafia os seus próprios limites ao aceitar trabalhar como cobaia no Instituto LAB um laboratório onde os imigrantes ou ex-presidiários permitiam que lhes fosse retirado sangue de hora em hora, além de aceitar a tomar medicamentos para testes. O comprometimento de sua saúde obrigou Wallraff a abandonar esta parte da investigação pela metade porém os relatos são o suficiente para chocar.

Como todo o livro reportagem mais do que tornar público sua experiência o autor contou com o depoimento de pessoas que a mais tempo do que ele viveram este período de exclusão da sociedade alemã. Ainda na Tyssen ele conheceu um alemão de nome turco Yuksel Atasayar, este foi o único que percebeu que Wallraff ali estava para conseguir reverter àquela situação, pois por vezes observava o jornalista em um canto da fabrica fazendo suas anotações durante os curtos intervalos que tinham. Yuksel fazia questão de passar informações importantes sem saber, nem questionar onde e como Wallraff as utilizaria.

Fonte: Classes de Periodismo
Considerado o sinônimo do jornalista investigativo na Alemanha Gunter Wallraff produziu uma matéria longa que deu origem ao seu livro “Cabeça de Turco”. O autor e jornalista consegue ser antes de tudo o ator que faz usos de cabelos e bigodes falsos, lentes de contato e se preciso for até cadeira de rodas para demonstrar não uma deficiência, mas uma fragilidade ignorada pelo interesse de alemães que procuram empurrar para um rico turco o pior dos cachões alegando ser o melhor da loja, só porque o mesmo está no fim da vida.

Fonte: Google
Wallraff denunciou o tráfico de mão de obra barata que faziam dos turcos e outros imigrantes escravos de uma Alemanha que em 1985 governada por Mikhail Gorbachev, líder da União das Repúblicas Soviéticas Socialistas – URSS caminhava ainda a curtos passos para aquela que em novembro de 1989 seria a reunificação dos seus povos com a queda do muro de Berlim que decretaria ainda o fim da Guerra Fria. O país ao mesmo tempo que se mostrava livre estava preso a um preconceito étnico.

Gunter Wallraff conquistou com “Cabeça de turco” em 1985 o prêmio de literatura de direitos humanos da França. O livro, considerado o melhor pós-guerra, vendeu mais de um milhão de exemplares só na primeira semana de lançamento e proporcionou centenas de processos contra a empresa Thyssen.

Wallraff é autor de outras obras como Fabricas de Mentira (1977) – O falso repórter Hans Esser que entrou para trabalhar no tabloide Bild Zeitung, para mostrar como o veículo distorcia as notícias. Outra obra que se tem conhecimento é A Descoberta de uma Conspiração (1976). Atualmente o escritor está com 71 anos e não há informações se ele ainda vive na Alemanha ou em outro país.

Meu 1° Prêmio de Fotojornalismo

Em agosto de 2012 ao participar da 6° Semana de Fotojornalismo da Universidade de São Paulo - USP pude competir na saída fotográfica pelas ruas da 25 de março juntamente com outros 120 participantes. A foto teria que ser pertinente ao tema discutido durante toda a Semana que foi "Caos".

O 1° lugar levaria como prêmio uma câmera Canon T3, o 2° Uma bolsa de estudos na Escola Techimage e o 3° livros dos fotojornalistas que palestraram naquela semana: Alan Marques, Rogério Ferrari e Evandro Teixeira.

Além da experiência adquirida em todos os encontros, a 6° Semana de Fotojornalismo da USP me rendeu meu primeiro prêmio no jornalismo e estimulou em mim a paixão pela fotografia.



Nota publicada no site dos organizadores

Matéria publicada no site da Universidade Guarulhos
Foto vencedora: "Os Esquecidos da 25"
No ano passado a 7° Semana de Fotojornalismo ocorreu entre os dias 19 a 23 de agosto. O tema de 2013 foi "Mulheres".


os PRÊMIOs foram

1º Lugar - Diana F+ Colette Package da Lomography Gallery Store + Livro #Euvistopele, de Dove Loções
2º Lugar - Livro Mulheres e Movimentos de Claudia Ferreira e Claudia Bonan + Livro De Peito Aberto de Hugo Lenzi e Vera Golik + Livro #Euvistopele, de Dove Loções
3º Lugar - Livro Metrópole - Hildegard Rosenthal, com texto de abertura de Maria Luiza Ferreira de Oliveira + Livro #Euvistopele, de Dove Loções

A semana de Fotojornalismo da USP ocorre sempre no mês que antecede o dia do fotojornalista comemorado no dia 2 de setembro.